"Meio século no plenário do Júri é privilégio reservado a poucos. Método, energia, obstinação, cultura, paciência, qualidades raramente concentradas num só advogado, entrelaçam a personalidade do admirável tribuno, modelo de elegância e de inimitável síntese.
Dante Delmanto sempre se manteve em absoluta discrição. Humildade na grandeza, reservado, infenso a honrarias, permitiu-se só uma vez, há alguns anos, usar as vestes talares fora do recinto do Tribunal do Júri. A Ordem dos Advogados do Brasil lhe outorgara um diploma, coroando-lhe a dedicação à advocacia criminal. Delmanto recebeu o laurel no salão nobre da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. A seu lado, envergando também as becas, uns poucos irmãos partilhavam o privilégio. O auditório estava repleto. Os colegas, especialistas ou não, quiseram testemunhar-lhe respeito e afeto.
Aquela homenagem foi extremamente significativa. Concretizada em pleno apogeu de um regime político felizmente ultrapassado, demonstrava o profundo amor dos criminalistas pelo Tribunal do Povo, cem vezes ameaçado de extinção a cada golpe do poder contra as liberdades públicas.
O Júri resistiu. Atravessou intacto outro negro período da história do Brasil. Os criminalistas, cada um a seu modo, contribuíram valentemente para a intocabilidade da instituição. Dentro e fora do plenário fez-se ouvir sempre, sem peias, fosse qual fosse o regime político, a voz do defensor.
O ilustre colega aguardava solitário prefácio. Amigos seus, todos companheiros fiéis na difícil atividade, decidiram unir-se na apresentação. “Fazem-no com entusiasmo e devotamento pelo companheiro que soube como poucos sustentar o sagrado direito ao contraditório, engrandecendo a advocacia criminal e legando aos jovens, com sua conduta, o certo exemplo a seguir”. *
* Prefácio do livro Defesas que Fiz no Júri, de autoria do advogado criminalista Paulo Sérgio Leite Fernandes, subscrito por diversos colegas.